terça-feira, 13 de março de 2012

Fases do cinema - Neo-Realismo Italiano


Talvez pela primeira vez na história do cinema um movimento de vanguarda se preocupou em retratar a realidade daqueles que assistiam ao cinema; o neo-realismo surgiu logo a pois o fim da 2ª guerra mundial, em 45, e teve fim no início da década de 50 e influenciou muitos outros filmes mesmo fora da Itália muito tempo depois de seu término.
Cena de Ladrões de Bicicleta (1948, De Sica).
Logo após a guerra, uma Itália arrasada pelo conflito e com boa parte da população em estado crítico, os cineastas italianos oficializaram um processo que já vinha ocorrendo desde antes da guerra, em que voltavam seus olhos para a sociedade, sua realidade, suas dificuldades e seus valores, adotando um estilo parecido com o de um documentário.   
Algumas características das filmagens que tornaram o neo realismo um estilo bastante curioso foram as atitudes de alguns diretores, como utilizar atores não profissionais, que as vezes, tinham a liberdade de falar em dialetos locais,  como em A Terra Treme (Visconti, 1948). Alem do costume de filmar nas ruas, não mais em estúdios como Hollywood fazia o tempo todo. 
A verdade é que, como o movimento Noir, o neo realismo também não foi exatamente um movimento pensado e organizado por um grupo unido de cineastas, mas sim uma espécie de orientação estética, como declararia De Sica : “Não é que um dia, sentamos numa mesinha da Via Veneto, Rossellini, Visconti e eu dissemos: agora vamos fazer o neo-realismo. Nós mal nos conhecíamos”.  


Cena de Roma, Cidade Aberta (1945, Rossellini).
O marco inicial do movimento foi Roma, Cidade Aberta (Rossellini, 1945), seus principais representantes foram o próprio Rossellini, Visconti (Obsessão, 1942/A Terra Treme, 1948), Zampa (Processo Alla Città,1952), De Santis (Roma, às Onze Horas,1952), e Vittorio De Sica, que produziu o que talvez seja o mais ilustre fruto do movimento, Ladrões de Bicicleta (1948). Este ultimo representa bem a ideia do neo realismo, no filme, através da jornada de um homem e de seu filho em busca de uma bicicleta roubada, e produzido de acordo com as “regras” da estética neo realista, como iluminação natural e a câmera quase como um expectador,  além da  dos cenários reais (o filme se passa quase que inteiro nas ruas de Roma), é retratada uma sociedade injusta e nada solidária, uma crítica ferrenha contra os conformistas e que busca o auto questionamento por parte da sociedade.
Pode-se ver ainda hoje que, apesar de o movimento original ter tido fim por volta de 1955 (devido aos governos conservadores que assumiram o poder na Itália, que favoreceram produções americanas às italianas no circuito de distribuição), suas características ainda estão presentes ainda hoje em produções de todo o mundo que mostram a realidade de forma crítica, até mesmo no Brasil. 

Um comentário:

  1. muito legal, alexandre! Gosto bastante desse momento pós-guerra do cinema italiano, e acho q apesar de (neo)realista, tem como diferencial o toque de humor e o jeito irônico de ver o drama (como vemos no final de ladrões de bicicleta), diferente do realismo do cinema brasileiro q descende das tragédias naturalistas de Nelson Rodrigues, ou do recente cinema realista francês influenciado pela tragédia grega! Acredito que Fellini, Scola e o espanhol Almodovar tenham bebido (e depois exagerado) desse humor da escola italiana, enquanto bertolucci e o americano Scorcese, por exemplo, absorveram o lado mais cruel e intimista da filmografia italiana de meados do seculo XX! o q acha?? Tentarei acompanhar suas postagens dessa série!

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