segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Django Livre



Como se percebe em diversos outros filmes de Tarantino, o diretor adora ser nostálgico, enchendo seus filmes de referência ao passado do cinema, à cultura pop, etc. Dessa vez ele lembra os famosos Western spaghetti, produzidos na Itália/Alemanha nas décadas de 60 e 70. Trata-se de visão menos heroica das historia de faroeste, que busca de um realismo no cenário dos filmes de cowboys e enfatizavam a violência, além de utilizar otimamente a trilha sonora feita por compositores geniais como Luis Bacalov.
O filme da vez é Django Livre, a história do escravo que dá nome ao filme (Jamie Foxx), que é libertado pelo caçador de recompensas King Schultz (Christoph Waltz) e, após realizarem alguns serviços juntos, vão em busca da libertação da esposa de Django, Broomhilda (Kerry Washington), das mãos de seu cruel proprietário Calvin Candie (Leonardo DiCaprio) , que tem como lacaio um impecável  Samuel L. Jackson na pele de Stephen. Esse é o enredo que Tarantino narra, como de costume, utilizando uma trilha sonora bastante eclética, que varia de hip hop até aqueles instrumentais acompanham os personagens dos filmes do mais emblemático diretor dos Western spaghetti, Sérgio Leone.
Como já havia mostrado em Bastardos Inglórios, Tarantino possui pleno domínio de suas habilidades, utilizando uma vasta lista de artifícios para transmitir o que deseja. Zooms, planos de grua (ambos com influências vindas dos “spaghetti”), close-ups, câmeras lentas e travellings. Tudo é muito bem usado para contar a história de vingança de Django e provocar reações nos espectadores, especialmente (e estranhamente) humor (o diretor já admitiu que tem como objetivo provocar riso no espectador de situações em que normalmente ele não riria).
Quanto as atuações, em Django Livre o diretor repete a parceria com Christoph Waltz, que já havia ganhado um Oscar na parceria anterior. O ex-dentista que mata por dinheiro e é tocado pela história de Django, resolvendo ajuda-lo, que Waltz desempenha pode não ser melhor que o coronel Landa que o ator interpreta em Bastardos, mas ainda assim é excelente. Quem realmente rouba a cena no filme é Samuel L. Jackson como o lacaio Stephen. O ator consegue dar ao personagem ao mesmo tempo um ar odiável e hilário, e é ajudado muito pela direção, que enfatiza seus trejeitos, e pelo roteiro (a ideia de um negro racista por si só já é uma piada).
Houve uma polêmica envolvendo o filme quando algumas personalidades (entre eles o famoso diretor afro-americano Spike Lee) disseram que não assistiriam ao filme por que o acharam desrespeitoso. Bem, na minha concepção não há nada com a qual pessoas negras possam ficar ofendidas. Ao contrário, Tarantino tira sarro de grupos racistas como a ku klux klan em algumas cenas e, como em Bastardos Inglórios, dá uma revanche simbólica para aqueles historicamente oprimidos (naquele foram os judeus, nesse, os negros).  




Finalizando, possivelmente este é o melhor filme do ano de 2012, apesar das poucas chances de ganhar o Oscar na cerimônia próxima. E mais uma curiosidade, Quentin Tarantino, como o lendário diretor inglês Alfred Hitchcock, gosta de fazer aparições em seus filmes. Bem, este pode não ser o melhor filme do diretor, mas certamente sua aparição neste filme foi a melhor de todas. 


quinta-feira, 5 de julho de 2012

No Tempo das Diligências


John Wayne e Claire Trevor.
O que mais me impressionou ao terminar de assistir No Tempo das Diligências foi estar ciente de que, à época, o gênero western estava decadente, não havia interesse por parte do público nem das produtoras. Este filme de John Ford tratou de mostrar o quão empolgante estes filmes podem ser e reviveu o gênero.
A película de fato merece o status de clássico que possui. John Wayne(ator preferido de Ford) aparece para o grande público em uma ótima atuação como o cowboy Ringo Kid. Além dele, os hilários Thomas Mitchell (como o bêbado Dr. Boone) e Andy Devine (como o covarde cocheiro Buck), além de Claire Trevor (como a corajosa Dallas) completam o excelente elenco do filme, que também tem como mérito conseguir trabalhar bem as personalidades de todas as personagens sem ser superficial.
Cena de enfrentamento com os apaches.
Percebe-se também que o filme estabelece (ou populariza) alguns clichês do western, tal como a “chegada da cavalaria”, e os duelos de rua em que os inimigos caminham de lados opostos da rua em direção um ao outro.
             John Ford foi criativo no que se refere à câmera, com ângulos inusitados; foi também na iluminação, apropriada para as situações emocionais das cenas. Apesar de sua qualidade, infelizmente o filme só ganhou um Oscar (ator coadjuvante, para Thomas Mitchell). Percebendo o erro/injustiça, dois anos depois, a academia encheria de Oscars o sofrível Como Era Verde o Meu Vale em detrimento de Cidadão Kane.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Fases do Cinema: Cinema Novo Brasileiro


Imagino que quem acompanha esta sessão “fases do cinema” deve se se perguntar : “Cinema francês, alemão americano... e o Brasil? Nunca houve uma movimento de vanguarda brasileiro digno de ser citado entre os mais importantes da história do cinema ?”. A resposta, segundo especialistas é que houve sim, e que entrou para a história com o nome de cinema novo brasileiro.
No final dos anos 1950, uma série de jovens ingressavam na vida cinematográfica, seja por meio da produção de curtas metragens, textos sobre cinema ou através da cultura de frequentar cine clubes. Mais tarde na década e 1960, os integrantes do movimento passaram a ser chamados de cinematovistas, seguindo o lema do movimento: “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”.
No começo da década de 1960 a maioria dos cinematovistas fizeram suas estreias na direção de longas metragens e se tornariam entusiastas do movimento. Entre eles Paulo César Saraceni, Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade, Carlos Diegues David Neves e Glauber Rocha, considerado o maior diretor do cinema novo.
Os filmes tratavam dos mais diversos temas sociais decorrentes do Brasil da época, entre eles a política, o futebol, a precariedade da educação, diferenças sociais e raciais mas principalmente, a miséria e a fome que assolavam boa parte dos brasileiros.  
Os principais filmes do período são Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro de Glauber Rocha; Maioria Absoluta e Garota de Ipanema de Leon Hirszman; Ganga Zumba, Rei dos Palmares, Os Herdeiros e A Grande Cidade de Carlos Diegues e finalmente O Desafio, Integração Racial e Capitu de Paulo César Saraceni. Desses, creio que alguns merecem uma análise particular.
Maurício do Valle como Antônio das Mortes em Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha, 1964).
Alguns filmes da lista acima se destacam em relação à alguns temas, O Desafio por exemplo, mostrava a decepção de um jornalista logo após o golpe de estado que encerrou a democracia no pais. Também a deficiente educação da época foi abordada com coragem no documentário Maioria Absoluta, retratando que a população analfabeta no Brasil da época era o que o titulo sugere; o filme chegou a ter planos para uma sequência, que se chamaria Minoria Absoluta (desta vez sobre os universitários do Brasil), mais foi cancelado devida à pressão politica.
Cena de Maioria Absoluta (Hirszman,1964)
E finalmente, o mais conhecido filho do movimento, Deus e o Diabo na Terra do Sol, filme de Glauber Rocha que segue algumas das convenções do cinema novo como câmera na mão e locação real, além de exibir a chamada “estética da fome” criada por Rocha. Através de um enredo que se passa no sertão no nordeste por volta de 1930 e acompanha as desventuras do sertanejo Manuel, perseguido pelo jagunço Antonio das Mortes, o filme pretendia incomodar o expectador mostrando a miséria que o país reluta em negar que existe. Além de, como definiu o crítico Richard Pena: “O efeito final é a sensação de que o filme e o país retratado por ele estão a ponto de explodir. Talvez não seja surpreendente que, antes da conclusão (...) e de seu lançamento comercial, os militares brasileiros promoveram um golpe e estabeleceram um ditadura que duraria 20 anos”.      
             Por se tratar de um movimento de denúncia e crítica, a maioria dos filmes desagradou o regime militar vigente na maior parte da década de 1960, a maioria enfrentou problemas com censura ( para se ter uma ideia, Terra em Transe, filme com forte teor político, só foi lançado aqui após ser levado clandestinamente para o festival de Cannes). Após a decretação do ato institucional Numero 5, em 1968, a situação para os cineastas ficaria cada vez mais complicada, muitos, como Glauber Rocha, tiveram que enfrentar exilio. Não havia como o movimento proceder dessa forma, porém, suas realizações e suas ideias continuam ainda hoje servindo de inspiração para novos cineastas.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Fases do Cinema- Nouvelle Vague


Uma fato interessante de ser notado na Nouvelle Vague é que ele começou muito antes de os filmes deste movimento serem produzidos. Isso ocorre através das opiniões e críticas expostas por jovens aspirantes a cineastas franceses na revista Cahiers du Cinéma. Mas antes de nos aprofundarmos nesta história, vamos conhecer melhor o contexto em que o estilo nasceu.
Imperava na França da época um cinema monótono, em sua maioria adaptações de clássicos da literatura apoiados em grandes astros, além do chamado cinema do papai, em que imperavam filmes de estúdio, com maquiagem e iluminação impecável, e isto já reinava desde o fim da segunda guerra mundial. Na ânsia de inovar o cinema, aparece o crítico francês André Bazin, dono de uma cinemateca em Paris onde os jovens puderam ter acesso a filmes de diretores como Hitchcock, Orson Welles e Jean Renoir, Howard Hawks, John Ford, etc.  
Cena de Os Incompreendidos (Truffaut,1959).
Além da cinemateca, André Bazin ainda era um dos donos da já citada revista Cahiers du Cinéma, onde diversos futuros diretores como François Truffaut, Jean-Luc Godard, Jacques Rivette e Claude Chabrol expunham as suas opiniões sobre o cinema hollywoodiano, o cinema francês, além dos mais diversos diretores, e claro, reverenciavam seus ídolos, tais como Jean Renoir e Roberto Rossellini (para se ter uma ideia, Truffaut admitiu ter assistido à A Regra do Jogo, de Renoir mais de 20 vezes, e Godard chegou a inventar uma falsa entrevista com Rossellini). Além de absorverem as ideias de outros movimentos cinematográficos recentes como o Neo-Realismo italiano (algumas características deste seriam adaptadas à Nouvelle Vague).  
Se “aquecendo” durante a década de 1950 através da produção de curtas metragens, os cineastas da Vague iriam lentamente caminhando para a produção dos longas metragens que comporiam o movimento. Um dado curioso para entendermos como eram unidos os entusiastas da vanguarda é observar que Godard chegou a ser montador de um curta metragem de Truffaut.
Cena de O Acossado (Godard, 1960).
Pois bem, aquele que é considerado o marco inicial do movimento é Os Incompreendidos, 1959, de Truffaut (que o dedicou a Bazin), apresentado no festival de Cannes, seguido de Alain Resnais com Hiroshima Meu Amor, de 1959, Chabrol com Os Primos, de 1959, e finalmente Godard, que em 1960, lançaria O Acossado. O sucesso de público e critica destes primeiros filmes fez com que nos anos seguintes, diversos jovens cineastas ganhassem oportunidades e pôs no patamar da fama os diretores envolvidos com seu surgimento.
Apesar dos diversos estilos e características únicas de alguns filmes do movimento, a maioria apresenta algumas marcas em comum, tal como: cortes bruscos sem fade (não temem a descontinuidade, ao contrário de Hollywood, o que conferiu mais agilidade aos filmes), filmagem em locações, citações à literatura e a filmes, juventude, roteiros episódicos, uso de equipamento portátil, equipes pequenas, criatividade frente aos limites financeiros (Godard chegou a fazer um travelling com um carrinho de supermercado) e repúdio a estúdios.
No decorrer da década de 1960 a onda (vague) foi perdendo força, as bilheterias dos filmes foram diminuindo. É considerado o marco final do movimento o rompimento da amizade entre seus dois maiores realizadores, Truffaut e Godard, no final da década, porém o movimento já havia deixado seu legado, influenciando o cinema de todo o mundo, inclusive a Hollywood da década de 1970, e o Cinema Novo Brasileiro aqui (falarei sobre ambos mais tarde...).              

terça-feira, 13 de março de 2012

Fases do cinema - Neo-Realismo Italiano


Talvez pela primeira vez na história do cinema um movimento de vanguarda se preocupou em retratar a realidade daqueles que assistiam ao cinema; o neo-realismo surgiu logo a pois o fim da 2ª guerra mundial, em 45, e teve fim no início da década de 50 e influenciou muitos outros filmes mesmo fora da Itália muito tempo depois de seu término.
Cena de Ladrões de Bicicleta (1948, De Sica).
Logo após a guerra, uma Itália arrasada pelo conflito e com boa parte da população em estado crítico, os cineastas italianos oficializaram um processo que já vinha ocorrendo desde antes da guerra, em que voltavam seus olhos para a sociedade, sua realidade, suas dificuldades e seus valores, adotando um estilo parecido com o de um documentário.   
Algumas características das filmagens que tornaram o neo realismo um estilo bastante curioso foram as atitudes de alguns diretores, como utilizar atores não profissionais, que as vezes, tinham a liberdade de falar em dialetos locais,  como em A Terra Treme (Visconti, 1948). Alem do costume de filmar nas ruas, não mais em estúdios como Hollywood fazia o tempo todo. 
A verdade é que, como o movimento Noir, o neo realismo também não foi exatamente um movimento pensado e organizado por um grupo unido de cineastas, mas sim uma espécie de orientação estética, como declararia De Sica : “Não é que um dia, sentamos numa mesinha da Via Veneto, Rossellini, Visconti e eu dissemos: agora vamos fazer o neo-realismo. Nós mal nos conhecíamos”.  


Cena de Roma, Cidade Aberta (1945, Rossellini).
O marco inicial do movimento foi Roma, Cidade Aberta (Rossellini, 1945), seus principais representantes foram o próprio Rossellini, Visconti (Obsessão, 1942/A Terra Treme, 1948), Zampa (Processo Alla Città,1952), De Santis (Roma, às Onze Horas,1952), e Vittorio De Sica, que produziu o que talvez seja o mais ilustre fruto do movimento, Ladrões de Bicicleta (1948). Este ultimo representa bem a ideia do neo realismo, no filme, através da jornada de um homem e de seu filho em busca de uma bicicleta roubada, e produzido de acordo com as “regras” da estética neo realista, como iluminação natural e a câmera quase como um expectador,  além da  dos cenários reais (o filme se passa quase que inteiro nas ruas de Roma), é retratada uma sociedade injusta e nada solidária, uma crítica ferrenha contra os conformistas e que busca o auto questionamento por parte da sociedade.
Pode-se ver ainda hoje que, apesar de o movimento original ter tido fim por volta de 1955 (devido aos governos conservadores que assumiram o poder na Itália, que favoreceram produções americanas às italianas no circuito de distribuição), suas características ainda estão presentes ainda hoje em produções de todo o mundo que mostram a realidade de forma crítica, até mesmo no Brasil.