Como se percebe em diversos outros filmes de
Tarantino, o diretor adora ser nostálgico, enchendo seus filmes de referência
ao passado do cinema, à cultura pop, etc. Dessa vez ele lembra os famosos Western
spaghetti, produzidos na Itália/Alemanha nas décadas de 60 e 70. Trata-se
de visão menos heroica das historia de faroeste, que busca de um realismo no
cenário dos filmes de cowboys e enfatizavam a violência, além de utilizar otimamente
a trilha sonora feita por compositores geniais como Luis Bacalov.
O filme da vez é Django
Livre, a história do escravo que dá nome ao filme (Jamie Foxx), que é
libertado pelo caçador de recompensas King Schultz (Christoph Waltz) e, após
realizarem alguns serviços juntos, vão em busca da libertação da esposa de
Django, Broomhilda (Kerry Washington), das mãos de seu cruel proprietário Calvin
Candie (Leonardo DiCaprio) , que tem como lacaio um impecável Samuel L. Jackson na pele de Stephen. Esse é o
enredo que Tarantino narra, como de costume, utilizando uma trilha sonora bastante
eclética, que varia de hip hop até aqueles instrumentais acompanham os personagens
dos filmes do mais emblemático diretor dos Western spaghetti, Sérgio Leone.
Como já havia mostrado em Bastardos Inglórios, Tarantino possui pleno domínio de suas
habilidades, utilizando uma vasta lista de artifícios para transmitir o que
deseja. Zooms, planos de grua (ambos com influências vindas dos “spaghetti”),
close-ups, câmeras lentas e travellings. Tudo é muito bem usado para contar a
história de vingança de Django e provocar reações nos espectadores,
especialmente (e estranhamente) humor (o diretor já admitiu que tem como objetivo
provocar riso no espectador de situações em que normalmente ele não riria).
Quanto as atuações, em Django Livre o diretor repete a parceria com Christoph Waltz, que
já havia ganhado um Oscar na parceria anterior. O ex-dentista que mata por
dinheiro e é tocado pela história de Django, resolvendo ajuda-lo, que Waltz desempenha
pode não ser melhor que o coronel Landa que o ator interpreta em Bastardos, mas ainda assim é excelente.
Quem realmente rouba a cena no filme é Samuel L. Jackson como o lacaio Stephen.
O ator consegue dar ao personagem ao mesmo tempo um ar odiável e hilário, e é
ajudado muito pela direção, que enfatiza seus trejeitos, e pelo roteiro (a
ideia de um negro racista por si só já é uma piada).
Houve uma polêmica envolvendo o filme quando algumas
personalidades (entre eles o famoso diretor afro-americano Spike Lee) disseram
que não assistiriam ao filme por que o acharam desrespeitoso. Bem, na minha concepção
não há nada com a qual pessoas negras possam ficar ofendidas. Ao contrário,
Tarantino tira sarro de grupos racistas como a ku klux klan em algumas cenas e,
como em Bastardos Inglórios, dá uma
revanche simbólica para aqueles historicamente oprimidos (naquele foram os
judeus, nesse, os negros).
Finalizando, possivelmente este é o melhor filme do
ano de 2012, apesar das poucas chances de ganhar o Oscar na cerimônia próxima.
E mais uma curiosidade, Quentin Tarantino, como o lendário diretor inglês
Alfred Hitchcock, gosta de fazer aparições em seus filmes. Bem, este pode não
ser o melhor filme do diretor, mas certamente sua aparição neste filme foi a
melhor de todas.