segunda-feira, 19 de março de 2012

Fases do Cinema- Nouvelle Vague


Uma fato interessante de ser notado na Nouvelle Vague é que ele começou muito antes de os filmes deste movimento serem produzidos. Isso ocorre através das opiniões e críticas expostas por jovens aspirantes a cineastas franceses na revista Cahiers du Cinéma. Mas antes de nos aprofundarmos nesta história, vamos conhecer melhor o contexto em que o estilo nasceu.
Imperava na França da época um cinema monótono, em sua maioria adaptações de clássicos da literatura apoiados em grandes astros, além do chamado cinema do papai, em que imperavam filmes de estúdio, com maquiagem e iluminação impecável, e isto já reinava desde o fim da segunda guerra mundial. Na ânsia de inovar o cinema, aparece o crítico francês André Bazin, dono de uma cinemateca em Paris onde os jovens puderam ter acesso a filmes de diretores como Hitchcock, Orson Welles e Jean Renoir, Howard Hawks, John Ford, etc.  
Cena de Os Incompreendidos (Truffaut,1959).
Além da cinemateca, André Bazin ainda era um dos donos da já citada revista Cahiers du Cinéma, onde diversos futuros diretores como François Truffaut, Jean-Luc Godard, Jacques Rivette e Claude Chabrol expunham as suas opiniões sobre o cinema hollywoodiano, o cinema francês, além dos mais diversos diretores, e claro, reverenciavam seus ídolos, tais como Jean Renoir e Roberto Rossellini (para se ter uma ideia, Truffaut admitiu ter assistido à A Regra do Jogo, de Renoir mais de 20 vezes, e Godard chegou a inventar uma falsa entrevista com Rossellini). Além de absorverem as ideias de outros movimentos cinematográficos recentes como o Neo-Realismo italiano (algumas características deste seriam adaptadas à Nouvelle Vague).  
Se “aquecendo” durante a década de 1950 através da produção de curtas metragens, os cineastas da Vague iriam lentamente caminhando para a produção dos longas metragens que comporiam o movimento. Um dado curioso para entendermos como eram unidos os entusiastas da vanguarda é observar que Godard chegou a ser montador de um curta metragem de Truffaut.
Cena de O Acossado (Godard, 1960).
Pois bem, aquele que é considerado o marco inicial do movimento é Os Incompreendidos, 1959, de Truffaut (que o dedicou a Bazin), apresentado no festival de Cannes, seguido de Alain Resnais com Hiroshima Meu Amor, de 1959, Chabrol com Os Primos, de 1959, e finalmente Godard, que em 1960, lançaria O Acossado. O sucesso de público e critica destes primeiros filmes fez com que nos anos seguintes, diversos jovens cineastas ganhassem oportunidades e pôs no patamar da fama os diretores envolvidos com seu surgimento.
Apesar dos diversos estilos e características únicas de alguns filmes do movimento, a maioria apresenta algumas marcas em comum, tal como: cortes bruscos sem fade (não temem a descontinuidade, ao contrário de Hollywood, o que conferiu mais agilidade aos filmes), filmagem em locações, citações à literatura e a filmes, juventude, roteiros episódicos, uso de equipamento portátil, equipes pequenas, criatividade frente aos limites financeiros (Godard chegou a fazer um travelling com um carrinho de supermercado) e repúdio a estúdios.
No decorrer da década de 1960 a onda (vague) foi perdendo força, as bilheterias dos filmes foram diminuindo. É considerado o marco final do movimento o rompimento da amizade entre seus dois maiores realizadores, Truffaut e Godard, no final da década, porém o movimento já havia deixado seu legado, influenciando o cinema de todo o mundo, inclusive a Hollywood da década de 1970, e o Cinema Novo Brasileiro aqui (falarei sobre ambos mais tarde...).              

terça-feira, 13 de março de 2012

Fases do cinema - Neo-Realismo Italiano


Talvez pela primeira vez na história do cinema um movimento de vanguarda se preocupou em retratar a realidade daqueles que assistiam ao cinema; o neo-realismo surgiu logo a pois o fim da 2ª guerra mundial, em 45, e teve fim no início da década de 50 e influenciou muitos outros filmes mesmo fora da Itália muito tempo depois de seu término.
Cena de Ladrões de Bicicleta (1948, De Sica).
Logo após a guerra, uma Itália arrasada pelo conflito e com boa parte da população em estado crítico, os cineastas italianos oficializaram um processo que já vinha ocorrendo desde antes da guerra, em que voltavam seus olhos para a sociedade, sua realidade, suas dificuldades e seus valores, adotando um estilo parecido com o de um documentário.   
Algumas características das filmagens que tornaram o neo realismo um estilo bastante curioso foram as atitudes de alguns diretores, como utilizar atores não profissionais, que as vezes, tinham a liberdade de falar em dialetos locais,  como em A Terra Treme (Visconti, 1948). Alem do costume de filmar nas ruas, não mais em estúdios como Hollywood fazia o tempo todo. 
A verdade é que, como o movimento Noir, o neo realismo também não foi exatamente um movimento pensado e organizado por um grupo unido de cineastas, mas sim uma espécie de orientação estética, como declararia De Sica : “Não é que um dia, sentamos numa mesinha da Via Veneto, Rossellini, Visconti e eu dissemos: agora vamos fazer o neo-realismo. Nós mal nos conhecíamos”.  


Cena de Roma, Cidade Aberta (1945, Rossellini).
O marco inicial do movimento foi Roma, Cidade Aberta (Rossellini, 1945), seus principais representantes foram o próprio Rossellini, Visconti (Obsessão, 1942/A Terra Treme, 1948), Zampa (Processo Alla Città,1952), De Santis (Roma, às Onze Horas,1952), e Vittorio De Sica, que produziu o que talvez seja o mais ilustre fruto do movimento, Ladrões de Bicicleta (1948). Este ultimo representa bem a ideia do neo realismo, no filme, através da jornada de um homem e de seu filho em busca de uma bicicleta roubada, e produzido de acordo com as “regras” da estética neo realista, como iluminação natural e a câmera quase como um expectador,  além da  dos cenários reais (o filme se passa quase que inteiro nas ruas de Roma), é retratada uma sociedade injusta e nada solidária, uma crítica ferrenha contra os conformistas e que busca o auto questionamento por parte da sociedade.
Pode-se ver ainda hoje que, apesar de o movimento original ter tido fim por volta de 1955 (devido aos governos conservadores que assumiram o poder na Itália, que favoreceram produções americanas às italianas no circuito de distribuição), suas características ainda estão presentes ainda hoje em produções de todo o mundo que mostram a realidade de forma crítica, até mesmo no Brasil.